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Bembé
do mercado

A FESTA DO ÒJÚ OBÁ
O Bembé

Conta-se que motivados pela assinatura da lei áurea, os pescadores e o povo de santo de Santo Amaro da Purificação, sob a liderança de João de Obá: malê filho de Xangô, realizaram o candomblé (Bembé) no mercado público durante três dias. No último, e como parte culminante da festa, foi entregue uma oferenda de agradecimento para a Mãe D’água (Orixás Oxum e Yemanjá); desde então, há 133 anos, assim é que se vive o 13 de maio no recôncavo baiano.

O evento centenário, registrado pelo IPAC e IPHAN, performa e atualiza a memória e os enredos do 13 de maio de 1889. Trata-se de um festejo primordial para os sujeitos que o realizam, preponderantes não-brancos e adeptos de religiões de matriz afro-americana, que, em análise interseccional, além das mazelas do racismo e do sexismo, vivem nos bairros periféricos em situação de vulnerabilidade, de forma que a sua participação na celebração evidencia estratégia de sobrevivência e de autonomia na busca da constituição e atualização de seus laços identitários, de solidariedade e de negação da exclusão social em favor de referenciais de cidadania. 

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Òjú Obá

No contexto simbólico e enunciativo da comunidade de onde emerge o Bembé do Mercado nasce Roque Boa Morte, homem afro-americano, cis, gay, também filho de Xangô, fotógrafo, advogado, professor e herdeiro da ancestralidade de duas famílias tradicionais nos cultos de candomblé de Ketu e de caboclo de Santo Amaro.

Levado desde pequeno pelos seus mais velhos para o mercado em tempos de festa pela abolição, ele construiu as imagens e memórias que hoje desembocam no trabalho visual que é a base da sua pesquisa de mestrado no Pós-afro UFBA, financiada pela FAPESB e parcialmente apresentada aqui.

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O legado 

O trabalho em questão se inscreve no campo da antropologia visual, notadamente da autoetnografia, e foi produzido a partir de atividade de campo que transcorreu durante cinco anos. A sua peculiaridade é mobilizar conhecimentos emergentes da festa em sua dimensão imagética, a partir de um olhar de dentro da comunidade, como perspectiva metodológica de investigação da celebração e daqueles que a realiza; um povo cuja ancestralidade, preponderante diaspórica e em luta pela sobrevivência, construiu um sistema de símbolos e afinidades que atualmente os norteia, identifica e salvaguarda.

Bembé do Mercado
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